Festa de Santa Bárbara celebra diversidades no Centro Histórico de Salvador
Milhares de pessoas se reuniram na manhã desta terça-feira (04) para celebrar o dia de Santa Bárbara, durante a festa que ocorre no Largo do Pelourinho. A programação iniciada ao raiar do dia, com a alvorada de fogos, marca o início do calendário das festas populares da Bahia, o que atrai, além da multidão de devotos, muitos interessados em conhecer o evento por seus valores culturais, carregados de história e significado. A missa campal foi marcada por manifestações da fé católica e das religiões de matrizes africanas.
As nuvens do início da manhã não afastaram os fiéis. Pelo contrário, serviam como lembrete de que é Santa Bárbara que comanda os ventos e os protege das tempestades. "Esse ano tá com muito axé! Deu até trovão", exclamava uma devota. Entre os primeiros a chegar para compor o que mais tarde se tornaria um imenso tapete vermelho e branco, estava a estudante Bárbara Beatriz, que comemora hoje os seus 18 anos. A jovem estava acompanhada da madrinha, a funcionária pública Márcia Juliana, que revela que a afilhada teve sérias complicações ao nascer, e precisou lutar pela vida. A menina se recuperou e foi batizada com o nome da Santa com a qual divide o dia. "Com o nascimento dela toda a família se tornou mais devota ainda. Ela é a verdadeira filha de Santa Bárbara, tudo o que ela pede ela alcança", conta a madrinha. Este ano, porém, Bárbara trazia nada mais do que gratidão. "É emoção pura, só tenho a agradecer. Ela está presente comigo em todos os momentos", diz a jovem, que sempre foi à missa na Igreja de Santa Bárbara da Liberdade, e dessa vez decidiu conhecer a festa no Pelourinho.
A missa campal, cujo início foi anunciado pelos clarins da sacada do Centro de Culturas Populares e Identitárias, foi conduzida pela Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, guardiã da festa. Louvores, pedidos, agradecimentos, comprometimento e entrega de presentes, como flores e acarajés, marcaram a cerimônia. "Para a Rosário dos Pretos é uma dádiva e grande responsabilidade manter viva a tradição. A preparação para a festa requer muita atenção, temos a Devoção a Santa Bárbara, as missas. Mas é sobretudo uma alegria alimentar nosso povo com carinho, amor, paz, com o estímulo e testemunho de Santa Bárbara", explica o Padre Lázaro Muniz. A celebração religiosa abraça ainda os adeptos do candomblé, que prestam homenagens a Iansã, Orixá que é sincretizada com a Santa.
A secretária de Cultura, Arany Santana, destacou que a festa secular se mantém forte por ser uma manifestação eminentemente popular. "Todos aqui, com sua fé, vem sustentando esse grandioso evento que abre as festas populares da cidade de Salvador. Nós todos, irmanados nesse momento, pedimos a Santa Bárbara que nos abençoe e ajude, e em especial às mulheres, livrando-as da violência", diz. Também participaram da cerimônia a secretária da Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, o secretário de Turismo, Zé Alves, e o secretário de Desenvolvimento Rural, Jerônimo Rodrigues.
Com o final da missa, a procissão seguiu com destino à Baixa dos Sapateiros. No Quartel Geral do Corpo de Bombeiros, na Barroquinha, o andor foi entregue aos bombeiros militares, que promoveram o seu encontro com a imagem do Quartel. Por trabalharem com fogo e intempéries, os bombeiros têm Santa Bárbara como a sua padroeira e sempre prestam homenagens. Após este momento, o quartel distribui para a população um total de 1000 kits do seu tradicional caruru. A procissão seguiu no contrafluxo até seu retorno à Igreja do Rosário dos Pretos.
A Festa de Santa Bárbara é uma correalização da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural, com apoio do Centro de Culturas Populares e Identitárias e da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.
Patrimônio – O culto a Santa Bárbara foi iniciado há quase 380 anos, e a festa é celebrada há mais de 200 anos. Por agregar valores culturais singulares, dar destaque às celebrações da fé católica e das religiões de matriz africana, a festa é registrada como Patrimônio Imaterial da Bahia em 2008, através do Decreto nº 11.353/08. Em dezembro de 2015, quando a celebração contava com mais de cinco anos de sua patrimonialização, técnicos do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) iniciaram o estudo de reavaliação para a revalidação do Registro Especial da festa, conforme exigido por lei. A investigação, concluída em 2017, mostrou que a Festa de Santa Bárbara no Pelourinho permanece com as características que mantêm viva a tradição e devoção à Santa. São manifestações de fé, paz, alegria, união, tolerância. Elementos significativos que fazem deste um grande evento popular.